domingo, 23 de agosto de 2009

“Evolução da caminhada ecumênica em Brasília”

Ref.: 13/05/2009

Na oração sacerdotal, Jesus orou pela unidade dos seus discípulos: “Que todos sejam um, como tu, Pai, em mim e eu em ti” (Jo. 17,21). A unidade é, pois, um desejo de Jesus. É também um dom de Deus. Mas é igualmente uma tarefa que ele pede a nós, e para essa tarefa, ele nos dá a sua graça. Portanto, não podemos permanecer de braços cruzados diante das divisões. A unidade é um grande desafio que todos nós cristãos recebemos.

O Movimento Ecumênico teve seu ponto de partida no movimento missionário. No século XIX, a fé cristã foi divulgada de uma forma sem precedentes. Em toda a Europa e América foram fundadas sociedades missionárias que enviavam missionários a todas as partes do mundo. Partes dessas sociedades missionárias trabalhavam interconfessionalmente, porém com o passar do tempo tornaram-se inevitáveis as freqüentes rivalidades que ocorriam entre os(as) missionários(as) nos diversos lugares. Paulatinamente e de forma cada vez mais profunda, porém, começou-se a sofrer por causa dessa desunião, e os líderes entre os missionários concluíram que havia chegado o momento de dialogar.

Assim, as primeiras conferências missionárias foram realizadas em 1878 e 1888 em Londres e em 1900 em Nova Iorque, culminando com a Primeira Conferência Missionária Mundial em 1910 em Edimburgo (Escócia). Esta conferência implantou uma nova consciência de comunidade nos cristãos, fazendo com que estes, provenientes das mais diferentes tradições cristãs fizessem uma experiência de que a “unidade da Igreja de Cristo podia ser experimentada claramente em meio a todas as diferenças existentes”. A Conferência de Edimburgo abriu novos caminhos para a cooperação das comunidades cristãs, iniciando a história do movimento ecumênico moderno.

Durante a primeira guerra mundial o arcebispo de Uppsala (Suécia), Nathan Söderblohm, realizou duas iniciativas de paz que mais tarde conduziram à criação de um segundo movimento ecumênico que posteriormente seria conhecido como “Movimento Vida e Ação”.

O terceiro Movimento Ecumênico foi o “Movimento Fé e Constituição”, que teve sua primeira conferência mundial em 1927 em Lausanne (Suiça), reunindo 400 participantes de 127 denominações cristãs.

Estes três movimentos culminaram no Conselho Mundial de Igrejas, fundada em 1948 em Amsterdã (Holanda). O CMI é uma comunhão de igrejas que professam a fé em Jesus Cristo como Deus e Salvador. O CMI não é uma nova igreja ou, uma Super Igreja. O objetivo do CMI é servir à unidade visível da Igreja.

É impossível em poucos minutos esgotar toda a riqueza destes anos de caminhada ecumênica, porém, o que fica fortemente marcado é a ação eficaz do Espírito Santo que suscita de tempos em tempos novos impulsos para dar continuidade à busca incessante da realização do testamento de Jesus: “Pai que todos sejam um” (Jo 17,21).

Também no Brasil acontece esta caminhada ecumênica, e neste momento, gostaria de me deter, mesmo que rapidamente, na “Evolução da caminhada ecumênica em Brasília”.

Aqui em Brasília, o arcebispo Dom Newton, após o retorno do Concílio Vaticano II, procurou ter um contato pessoal com alguns líderes de Igrejas Cristãs presentes no DF. Foi uma iniciativa um pouco tímida por se tratar, de certa forma, de uma novidade. Porém, esta pequena iniciativa foi o ponto de partida para nossa caminhada.

Na década de 80, o reverendo Johannus Schlupp, Pastor da ICELB, pessoa de alma aberta voltada ao ecumenismo, assim que chegou a Brasília procurou o Cardeal Dom José Freire Falcão para propor-lhe o início de uma experiência ecumênica, como a que ele participava na cidade de Nova Friburgo – RJ.

No início, um pequeno grupo se reunia: Cardeal Dom José Freire Falcão ICAR), Frei Felix (ICAR), Pastor John Miller (IPU), grande incentivador do ecumenismo, Pastor Euler (Metodista). Aos poucos outros vieram fazer parte e compartilhar desta experiência: Pe. Emmanuel Soufolis – Igreja Ortodoxa Grega, Dom Almir Santos – bispo da Igreja Episcopal Anglicana, Pastor Gilvan de Azevedo – IELB, atualmente se encontra no Canadá, Pr. Renato Augusto Kuhne – ICELB, Pastor Rui Barbosa – Igreja Presbiteriana Pastor Ervino Schmidt – ICELB, Dom João Braz de Aviz – Arcebispo de Brasília, Pe. Gabriele Cipriani (ICAR), Pr. Carlos Möller (ICELB) – atual Presidente do CONIC, D. Mauricio Andrade – Primaz da Igreja Episcopal Anglicana no Brasil e outros.

Após certo tempo, este grupo inicialmente composto por clérigos, foi aberto também à participação de leigos empenhados, das várias denominações. Vale ressaltar que, a participação dos leigos é em conformidade com as lideranças das Igrejas.

O que se procurou viver nestes anos no GEB, foi um ecumenismo feito de vida, de comunhão profunda. O GEB sempre teve visão dos problemas e dificuldades da caminhada ecumênica, abordando em suas reuniões temas candentes, e atuais sobre a teologia, filosofia, liturgia, situações sociais etc, porém, o que deveria vir em evidência era o respeito mútuo, a paciência e esperança para continuar com a certeza de colher os sinais dos tempos.

Em 1994, foi elaborado um pequeno estatuto que resume o objetivo e quem são os membros do grupo: Objetivo: “... visa promover o diálogo e a aproximação entre cristãos de diferentes denominações”, Membros: clérigos e leigos, que se dispõe ao diálogo e a cooperação, respeitando os princípios das Igreja.

Aos poucos foi reconhecido pelas entidades religiosas, governamentais e sociedade civil, e, em muitas ocasiões é solicitada uma representação do GEB para eventos.

Desde que o CONIC transferiu sua sede de Porto Alegre para Brasília, o GEB procurou trabalhar junto sempre que solicitado: Campanha da Fraternidade Ecumênica, Dia Nacional de Ação de Graças, Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, várias celebrações ecumênicas (casamentos, formaturas...)

Tendo em vista as dificuldades na preparação das celebrações ecumênicas, foi elaborado um modelo básico, contendo as informações necessárias para a realização das mesmas.

Colaboramos com a Secretaria de Educação, há três anos, na elaboração do currículo para o Ensino Religioso no DF, etc . Realizamos também dois encontros musicais interconfessionais, para jovens.

Além do GEB, nasceu em Brasília há mais de 25 anos, o Grupo de Convivência Cristã, sob a inspiração do carisma da Unidade, do qual fazem parte, membros do Movimento dos Focolares, pertencentes a várias denominações religiosas. Este grupo se encontra mensalmente para compartilhar experiências da vivência da Palavra, suas alegrias, dificuldades, preocupações. Uma característica do grupo é a sua composição: na sua maioria são casais com matrimônio misto (um presbiteriano e uma católica, uma batista e um católico, e vice-versa), segundo o depoimento de vários deles, ali no grupo são ajudados a vencer as dificuldades encontradas nas mais variadas situações (família, na própria comunidade da qual fazem parte, etc).

Sabemos que o ecumenismo exige um coração voltado para a paz e a valorização do outro. Não basta realizar ações ecumênicas, é preciso ter de fato a espiritualidade do diálogo. Essa espiritualidade exige o cultivo de muitas qualidades, como: esperança, amor à paz, humildade, capacidade de ouvir, paciência, discernimento, lealdade, alegria ao ver o bem e respeito ao outro.


Maria Goretti Reynaud Rodrigues
Movimento dos Focolares – Brasília/DF